Para os que se amam
são mais suaves as curvas dos arroios e mais melodiosa a música do seu cantar;
enchem-se de perfume todas as manhãs, de flores as tardes e de estrelas cintilantes as noites;
há sempre o verde da esperança, o róseo das promessas do futuro, o azul do céu dos prazeres, o vermelho profundo das paixões;
o tempo não existe ou, se existe, escoa-se in-fi-ni-ta-men-te devagar, compondo a eterna sinfonia das horas do amor;
é mais gostoso o tempo de frio e chuva, que rege os carinhos e os aconchegos;
mentiras podem ser verdades, promessas podem ser certezas e realidades podem existir apenas nos sonhos;
vale mais viver que morrer, sentir que pensar, desejar que ter, ir do que chegar;
não há limites senão os escolhidos em cumplicidade, nem fronteiras que não as da terra imaginária conquistada a dois;
há que se sorver, precisa-se fluir, necessita-se plenamente sentir;
a festa é permanente, constante o dançar e eterno o verdadeiro querer;
se escreve, a todo momento, o roteiro maravilhoso e inacabado do viver;
existem, sempre, olhares de compaixão, visões de beleza e miragens de cenários encantados;
mantêm-se aquecidas as lareiras, frias as águas que refrescam, cálidas as brisas do verão e gelidamente excitantes os ventos do inverno;
florescem, sempre, os jardins, os campos e as flores que só nascem nos corações para formar os buquês cujo destino é
presentear os amantes;
fica fácil encontrar gotículas de orvalho sobre folhas, terra deliciosamente úmida para pisar, borboletas esvoaçantes contra
o fundo claro das manhãs e vagalumes acesos como jóias brilhantes no estojo de veludo negro da noite;
sabores são muito mais sentidos, ressaltando o salgado, o doce, o amargo, o picante, o suave, transformando a existência num banquete de paladar dionisíaco;
as dores se suavizam, nos corpos anestesiados pelo bálsamo da paixão;
nada custa tanto que não possa ser presenteado, nada está tão longe que não possa ser buscado, nada é tão seu que não possa ser doado;
amar é tudo: o norte da caminhada, o alvo das buscas, o começo do que se tenta e o alcance do que se deseja.
Para os que se amam, enfim, cada batida do coração – acelerada na paixão, mais suave no amor prolongado, quase extinta no amor-saudade – é a própria vida, completa, intensa, maravilhosa, traduzida em sentimento.
Por J. Carino
Professor aposentado de Filosofia da UERJ. Escritor, dedica-se a crônicas e contos. Publicou “Olhando a cidade e outros olhares”. Desde a infância, foi embalado pelas ondas do rádio. Foi locutor de rádio, atividade que ainda exercita narrando seus próprios escritos e outros textos. Empenha-se no momento em implantar a Web “Rádio Sorriso” em Niterói, RJ, cidade onde mora.