terça-feira, 30 de junho de 2015

Obrigado por não ter abortado.


Dia trinta de janeiro.
Lá fora , um imenso povo
Aqui dentro, um passageiro
Disfarçado em célula-ovo


Quinze de fevereiro, já sou embrião.
Já pressinto a alegria da mãe sofredora,
que ignora que vivo, e então
Sou um incógnito numa câmara incubadora.

Dia vinte a cinco , nada vai mal.
O tubo cardíaco começou a bater
E o cérebro e a medula espinhal
Já estão comigo a nascer.

Dois de março, me surpreende;
Meço três milímitros, não é?
Mamãe se enjoa e, muito sofrendo,
Não pode nem tomar um tal de café.

Já se delineiam o meu formato,
Minhas perninhas , meus bracinhos.
Meu desenvolvimento já é um fato
E eu percebo que terei carinho.

Primeiro de abril , parece mentira,
Já sei o sexo que me deu o destino.
Felizmente , dentro de mim não há Ira,
Porque , eu juro, que sou bom.

Oito de abril , estou me sentindo gente;
Estou aqui torcendo pelo tempo:
Torcendo para que , de repente,
Esta caverna me deixe livre como o vento.

Alegra-me que a ciência não tenha
Em um frasco me colocado,
Pois o papel que o ventre desempenha
É importante para que eu seja amado.

Dez de abril , mamãe me sente como uma dor,
Sou parte dela e por ela irei ao mundo,
De quem deu o que tinha de mais profundo.

Em seu organismo, vivo e me alimento,
Somos dois seres incrustados num só.
E ainda muito confuso aqui dentro
Eu temo por seu sofrer e sinto dó.

Quinze de abril , mamãe acordou disposta ,
Saiu e , para onde ia, não comentou.
Perguntaram-lhe, não houve resposta.
Hoje.... Hoje mamãe me ASSASSINOU...!!!

Maria, obrigado por você não tê-Lo abortado!

(Reflexão)



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