Quando se ama, se conhece, pois amor é conhecimento. É
conhecimento de si mesmo, pois o outro é um reflexo do nosso eu e também
conhecimento do outro que se traduz em abertura. Portanto, o amor é
conhecimento de si mesmo e do outro e só é possível devido ao caráter da
retrospectividade.
A retrospectividade é a capacidade de se lançar sempre no ponto de
partida, retomando-o a cada instante e dando-lhe significado, atualizando-o na
perspectiva de um olhar para o futuro, pois quem ama sente a nostalgia do
passado, frui do presente e se lança para além da nostalgia, gozando do presente,
vislumbrando a esperança do para sempre que supera todos os tempos.
Assim, somente através da retrospectividade é possível escolher o bem, amar o
outro e conseqüentemente fazer a experiência da “anima appetitus” que busca o
mais profundo do ser. Logo, para irmos até ao encontro do outro é necessário
conhecer. Por isso, ninguém ama aquilo que não conhece. Primeiro busca-se
conhecer o desconhecido, desvendá-lo e em seguida fazer parte do seu universo.
Aquilo que é desconhecido sempre provoca medo e é a partir da superação do
medo, pelo conhecimento do ser desconhecido que se começa a amar. “Assim, a
realização do amor é a ausência de medo”30, isto é, o amor torna-se o elã
relacional, pois o outro já não se torna ameaça porque houve o fatal encontro
do olhar profundo da e na alma, que permite ao homem a descoberta e realização
antropológicas que implicam conhecimento de si e do outro. Ao mesmo instante
que o amor é conhecimento, torna-se amor ao conhecimento, pois quando se ama
quer-se conhecer cada vez mais o ser amado. É um desejo que se torna cada vez
mais intransponível, que se evidencia pela busca do outro e o encontro de si
mesmo presente no outro. “O amor não só não perde nada, mas é acrescido em
elevadíssimo grau, pois, ao ver aquela beleza singular e verdadeira e o amará,
ainda mais. E não poderá permanecer nessa felicíssima visão senão fixando os
olhos com grande amor e não desviando jamais o olhar. Amor Segundo Agostinho