Junto com a faculdade, veio o primeiro amor e o Ainda-Não-Leitor se apaixonou, perdidamente, por uma linda moça que estava no terceiro semestre da mesma instituição de ensino. Era um amor que crescia em seu peito. O Ainda-Não-Leitor nem precisava dormir para sonhar com Eulália. Estava disposto a tudo para conquistá-la. Sabia que Eulália era uma das garotas mais “apreciadas” entre os seres masculinos daquela faculdade. Os garotos da Engenharia e da Medicina viviam atrás dela. Porém, ela não dava bola, era uma garota difícil de ser conquistada, diziam as vozes masculinas, mas o Ainda-Não-Leitor não era fácil de se deixar abater. Foi atrás de seu sonho. Ele estava decidido a fazer tudo, o possível e o impossível, por sua bela Eulália. Certo dia, o Ainda-Não-Leitor, enfim, conseguiu marcar um encontro com a garota difícil da faculdade. Marcaram em frente ao prédio da faculdade de Letras. O Ainda-Não-Leitor chegou esbaforido, mesmo estando adiantado, mas ele queria impressioná-la. Levou um ramalhete de flores do campo, tão coloridas e alegres como a sua Eulália.
No horário marcado surge, saindo do prédio de Letras a sua garota, trazendo consigo uma pilha de livros. O Ainda-Não-Leitor, envolvido em sua paixão cega, não havia percebido, mas como um golpe do destino, recebeu a notícia daquela voz rouca e alegre:
– Oi, você está aí há muito tempo? Desculpe se me atrasei, estava envolvida lá na biblioteca. Você sabe, faculdade de Letras requer muita leitura. Mas eu não me incomodo, afinal, ler é tudo para mim. Dou muito valor para pessoas que apreciam esse hábito. Por isso eu gostei de você logo de cara. Percebi que você é um rapaz legal e que gosta de ler.
– Eu? Gosto de ler? Como assim? – indagou o Ainda-Não-Leitor mais para si mesmo do que para a bela leitora, agarrando-se às flores como se elas fossem sua tábua de salvação.
– Ora, não sinta vergonha de ser um leitor. É triste de se ver os rapazes aqui da faculdade, todos fugindo das bibliotecas, como se fugissem de um monstro. São todos uns babacas. Agora, você não. Você merece a minha admiração por gostar de ler. São de homens como você que o país precisa para progredir.
– Mas como você chegou à conclusão de que eu sou um… Leitor? – indagou incrédulo.
– Mas tá na cara!
– Tá?!
– Ora, você está, todos os dias, pra lá e pra cá com esse livro do Machado de Assis embaixo do braço!
O Ainda-Não-Leitor olhou para as suas mãos. Numa estava o ramalhete de flores que ele ainda não havia dado à sua leitora e na outra, o exemplar antigo de Machado de Assis. Prometera à sua mãe, em seu leito de morte, que sempre levaria consigo aquele livro, para onde quer que ele fosse e todos os dias em que ele precisasse da ajuda da mãe e ela, estando onde estivesse, reconheceria nesse gesto, o seu pedido de ajuda. E, dessa forma, como ele queria conquistar a leitora, trazia consigo aquele exemplar antigo. Era a certeza de que a mãe o ajudaria.
Por fim, o Agora-Leitor e a Desde-Sempre-Leitora passaram a se encontrar em frente à Biblioteca Central da faculdade. Eles sentavam no gramado e liam juntos um capítulo de Machado de Assis. ( curiosa história de um leitor )
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